sábado, 24 de janeiro de 2009

O Legado de Galileu

em sábado, 24 de janeiro de 2009

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O Legado de Galileu

Em março de 1610, Galileu – um modesto professor de matemática na Universidade de Pádua, publicou um pequeno livro de apenas 24 páginas, com o título de Sidereus nuncius (O mensageiro das estrelas). Nele, descreveu minuciosamente suas descobertas astronômicas: a Lua não tem uma superfície esférica perfeita e lisa como supunham os filósofos aristotélicos, mas exibe um relevo como a Terra, “com montanhas elevadas, vales e cavidades profundas”. Algumas dessas “cavidades” (crateras, como conhecemos hoje) foram desenhadas em detalhes por Galileu.

Vênus, descobriu Galileu, tem fases, como a Lua – um claro indício de seu movimento em torno do Sol, e não da Terra como defendia o modelo geocêntrico. A mancha esbranquiçada conhecida como Via Láctea é formada por um “amontoado incontável de estrelas”. Galileu notou também que as próprias estrelas, ao contrário dos planetas, não se mostram como pequenos discos circulares, mas como “chamas que cintilam e brilham”; e que o seu número aumenta significativamente quando observados com uma pequena luneta.

Finalmente, ele descobriu quatro “estrelas” que acompanhavam Júpiter, “nunca vistas desde o princípio do mundo”. Noite após noite, Galileu registrou as posições dessas “estrelas” relativas ao planeta, chegando à conclusão de que se trata de luas que orbitam Júpiter, assim como nossa Lua gira em torno da Terra. Mais um bom argumento em favor do sistema heliocêntrico. Galileu chamou esses satélites de “astros mediceus”, em uma homenagem a Cósimo II, o grão-duque da Toscana e líder da família Médici – a quem ele dedicou o livro. Se era uma estratégia, funcionou bem. Cósimo II o nomeou “primeiro matemático e filósofo do grão-duque de Toscana” e “primeiro matemático da Universidade de Pisa”, sem obrigação de residência nem de ensino. E, além disso, a repercussão do Sidereus nuncius foi extraordinária: Galileu ganhou o apoio imediato e entusiasmado de Johannes Kepler e de vários astrônomos do Colégio Romano dos Jesuítas e outros padres da mesma ordem, à época, a elite intelectual da Igreja Católica.

Sentindo-se fortalecido por esse prestígio, Galileu publicou três anos depois Storia e dimostrazione intorno alle macchie solar e loro accidenti (“História e demonstração sobre as manchas solares e suas propriedades”). Neste trabalho argumentou que as manchas escuras observadas sobre o disco solar tinham a natureza de “vapores, ou emanações”. Acreditou então que havia reunido evidências experimentais suficientes para defender publicamente o modelo heliocêntrico de Copérnico, de quem era admirador. A reprodução das observações feitas por Galileu é uma das preocupações do Ano Internacional da Astronomia.

Sabemos que Galileu não foi o inventor do telescópio: essa invenção veio certamente da Holanda (em outubro de 1608 havia, em Haia, dois pedidos de patentes de pequenas lunetas – um de Hans Lipperhey, de Middelburg, e o outro de Jacob Metius, de Alkmaar). Eram instrumentos rudimentares, capazes de aumentar três vezes o tamanho aparente dos objetos. Essa foi a informação que chegou a Galileu, que construiria sua primeira luneta (também com três aumentos) em junho de 1609. O segundo desses instrumentos (com oito aumentos) estava concluído em agosto. A luneta (com magnificação de 20 vezes) é de outubro de 1609. Foi com essa última que Galileu observou a Lua, as estrelas e a Via Láctea e descobriu os satélites de Júpiter.

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